Praxes e Festas
http://jornal.publico.clix.pt/
26.05.2008, Carla Machado
A praxe e as "festividades" académicas são mais uma vez notícia pelas piores razões
É evidente que não é legítimo confundir o todo com a parte e, felizmente, a maioria da praxe e dos nela envolvidos não se comportam da forma sugerida por estes episódios. Mas isso não anula o facto de o ritual em si mesmo envolver relações de poder arbitrárias, exercício de humilhações várias e uma clara conotação machista e sexual. O que tem isto a ver com os episódios relatados? Nada? E as universidades nada têm a dizer sobre o que ocorre dentro das suas portas (metafóricas ou concretas), entre os seus alunos, nos tempos que a própria universidade aceita para tais "festividades", supostamente "académicas"? Se isto acontecesse numa qualquer empresa, seria admissível o silêncio dos seus responsáveis?
Assisti, repetidamente, ao discurso por parte de muitos colegas e superiores de que "não é nada connosco" e de que "é melhor não interferirmos, porque senão pode ser pior". Pior, como? O que mais é preciso acontecer para dizermos basta?
3. O indizível está a acontecer agora. Ao nosso lado. Se continuarmos a aceitar com resignação o inaceitável, não passará muito tempo até nos tornarmos, a nós próprios e aos princípios em nome dos quais construímos um país livre e um projecto de cidadania, pouco mais do que notas de rodapé. Cuja irrelevância ninguém conseguirá resgatar.